Vingança é Melhor Feita na Próxima VidaPT

— Sobe primeiro, Teresa. — Ordenou Ricardo, com um tom de urgência na voz.

Quando me dei conta de que havia retornado no tempo, o iate já fazia água por todos os lados.

O dilema era cruel. Apenas dois lugares disponíveis no bote salva-vidas. Entre nós três, somente Ricardo dominava as técnicas de navegação. Portanto, uma das vagas necessariamente seria dele.

E quanto à outra vaga...

Após momentos de angustiante indecisão, Ricardo estendeu sua mão em minha direção.

Dei um passo para trás, sentindo o peso da minha nova chance.

— Salve a Joyce primeiro. — Pronunciei com firmeza, sem titubear.

Dessa vez, me recusava a carregar o fardo de ter alguém morrendo em meu lugar.

Ao escutar minhas palavras, ele exalou profundamente, como quem finalmente se liberta de um grande peso. As rugas de preocupação em sua testa se suavizaram num instante.

Num impulso, agarrou a mão de Joyce e a guiou até o bote.

— Teresa, você é minha noiva. — Ele se justificou, evitando meu olhar. — Ia te salvar primeiro. Mas já que pediu para levar a Joyce, aguarde aqui. Prometo voltar para te buscar. Aguenta firme!

Partiram sem olhar para trás, como se Ricardo temesse que eu pudesse mudar de ideia a qualquer instante.

Patético. Será que ele imaginava que todos pensavam como ele?

Na minha vida anterior, a cena foi idêntica, mas com um desfecho diferente. Ele me levou consigo, abandonando Joyce à própria sorte naquele mesmo iate.

Mesmo tendo acionado a Guarda Costeira assim que conseguimos sinal, Joyce acabou sucumbindo às águas. Quando finalmente a localizaram, já era tarde demais. Restava apenas seu corpo sem vida.

Inicialmente, Ricardo permaneceu impassível diante da notícia trágica.

Com uma frieza desconcertante, ele se encarregou dos preparativos fúnebres e ofereceu uma generosa quantia à família dela como indenização. Sua única exigência era um sepulcro em local privilegiado.

Eu, naturalmente, não contestei. Cheguei até a perguntar:

— Quer adiar nosso casamento?

— De jeito nenhum! — Ele recusou prontamente.

Me recordei nitidamente dele apertando minhas mãos entre as suas e declarando com convicção:

— Vou me casar com você, Teresa. Aconteça o que acontecer!

Posteriormente, compreendi o verdadeiro significado daquelas palavras.

Sim, ele se casaria comigo. Mas apenas para me fazer expiar, pelo resto da minha vida, a culpa pela morte de Joyce.

Como se eu fosse a responsável por aquela tragédia.

Observando o bote se afastar com Ricardo e Joyce, me concentrei em encontrar uma maneira de sobreviver por conta própria.

Dessa vez, não podia contar com seu retorno acompanhado das autoridades.

Na vida anterior, ele voltou porque sua adorada amiga de infância havia ficado para trás. Tão logo conseguiu sinal no celular, acionou os socorristas.

Agora, porém, sua amiga de infância estava a salvo, sentada ao seu lado. Será que se lembraria de mim?

Duvidei muito. Afinal de contas, duas existências, e a única pessoa que ele realmente desejava salvar sempre foi Joyce.

Cresceram juntos, compartilharam memórias com as quais eu jamais poderia competir.

Na outra vida, ele me escolheu primeiro apenas porque eu era sua noiva oficial, e isso evitaria questionamentos sociais.

Mesmo amando Joyce, mesmo a venerando acima de tudo, optou por me salvar.

E depois, ele se arrependeu amargamente daquela escolha.

Agora, fui eu quem corrigiu esse erro para ele.

Ele deveria me agradecer por isso.