Isadora cresceu acreditando que não era o bastante. Não bonita o suficiente. Não forte o suficiente. Não digna de amor. A vida a ensinou a se esconder — em roupas largas, sorrisos disfarçados e silêncios profundos. Sua rotina é solitária, feita de cafés mornos, livros revisados e janelas fechadas. Até o dia em que ela sente algo inexplicável: um olhar que atravessa sua barreira invisível. O novo vizinho da janela da frente. Caio. Gentil, calmo e com uma sensibilidade rara, Caio não é apenas um artista. Ele é também Cael, um anjo que quebrou uma regra celestial para descer à Terra e proteger uma alma que está prestes a desistir de si mesma. Mas Caio não veio para salvá-la. Ele veio para lembrá-la de algo que ela esqueceu: que sua existência já é um milagre. Que seu jeito de sentir demais não é fraqueza, mas força. E que ela não precisa ser perfeita para ser amada — só precisa se permitir ser quem é. Entre bilhetes na janela, silêncios partilhados e gestos delicados, nasce uma conexão que desafia o tempo, a dor e até as leis do céu. Só que Caio tem um prazo. E Isadora precisa aprender a se amar antes que ele vá. Mesmo Que Você Não Veja é um romance profundo, delicado e mágico sobre reconstrução, aceitação e o tipo de amor que começa quando você finalmente se enxerga. Mesmo que ainda duvide. Mesmo que ainda doa. Mesmo que você não veja.
Ler maisO silêncio após a partida de Selene parecia mais pesado que a própria torre. Nenhum som de ave, de vento, nem mesmo o estalar das pedras antigas. Do lado de fora, a névoa lilás começava a se dissipar, dando lugar a um céu cinzento que ameaçava desabar.Isadora ainda sentia a vibração da marca no ombro. Era como se Selene tivesse deixado algo para trás — uma conexão invisível, pulsando dentro dela.— Ela falou sério, não é? — sussurrou Isadora, olhando para Azrael. — O Conselho vai nos caçar.Azrael assentiu. Seus olhos carregavam o peso de séculos.— O Conselho não teme magia. Eles temem o que não podem controlar. E agora, você representa exatamente isso.Cael deu um passo à frente, tenso.— Temos que sair daqui. Essa torre está exposta. Se Selene conseguiu nos rastrear, outros também podem.— Não adianta fugir — respondeu Isadora, firme. — Não mais.Ela apertou a pena negra contra o peito. Era estranha, quente demais para algo que deveria ser inerte. Era como se respirasse. Como se e
O ar dentro da torre parecia gelado, mesmo com a presença quente e ameaçadora de Selene. A luz fraca que entrava pelas janelas altas fazia seus olhos prateados brilhar como estrelas frias. Ela caminhava lentamente, cada passo uma sentença não dita, cada olhar uma lâmina afiada.— Vocês não deveriam estar aqui — disse Selene, a voz como um sussurro que parecia ressoar nas pedras antigas.Cael colocou-se firmemente à frente de Isadora, os músculos tensos, os olhos brilhando com determinação.— O Conselho sabe. Eles vão atrás de nós — disse ele, a voz firme, tentando esconder o medo que apertava o peito.Selene sorriu, um sorriso cheio de segredos e de dor. — O Conselho sempre sabe. Mas dessa vez, não será simples. Vocês romperam o equilíbrio. Quebraram um selo que deveria permanecer intacto. Agora, as peças estão em movimento, e nada será como antes.Isadora sentiu a marca no ombro pulsar forte, uma conexão invisível que a ligava diretamente a Selene. O ar parecia vibrar com o poder anc
O céu não amanheceu.Ainda era madrugada quando Cael e Isadora deixaram a casa, mas o tempo parecia ter se curvado ao redor deles. O ar estava espesso, denso demais para uma simples madrugada. A cidade permanecia suspensa em um silêncio anormal, como se o mundo soubesse que algo antigo havia despertado. Nenhum carro passava, nenhum pássaro cantava, e nem mesmo o vento ousava soprar.— Estamos sendo observados — murmurou Cael, a voz baixa e firme enquanto cruzavam a ponte de madeira enferrujada que levava ao campo abandonado.Isadora manteve o olhar fixo à frente. A pena negra, escondida sob seu casaco, pulsava contra o peito como um segundo coração. Um que não era seu. Cada passo sobre a ponte fazia a madeira gemer, e o som parecia ecoar por mais tempo do que deveria. Como se o lugar se lembrasse deles.Do outro lado, a névoa se abria para revelar um vale envolto em tons de lilás e cinza. E ali, no centro, erguia-se a torre.Antiga. Esquecida. Viva.A estrutura de pedra era abraçada p
O céu não amanheceu.Ainda era madrugada quando Cael e Isadora deixaram a casa, mas o tempo havia se curvado ao redor deles, como se o mundo recusasse seguir seu curso natural. A cidade parecia suspensa em um instante que não pertencia a mais ninguém. Nem carros, nem passos, nem o canto dos pássaros. Apenas silêncio. E o peso do que os aguardava.— Estamos sendo observados — disse Cael, enquanto atravessavam a ponte enferrujada que levava ao campo esquecido.Isadora não respondeu. O som dos próprios passos sobre a madeira era como um eco vindo de outra era. A pena negra estava guardada dentro do casaco, mas ela ainda a sentia vibrar — como um coração que não era dela.Do outro lado da ponte, a paisagem se abriu em um vale coberto de névoa lilás. No centro, uma torre tomada por raízes retorcidas parecia resistir ao próprio tempo, como um sussurro antigo que nunca deixou de ser dito.— A torre de Vigília — sussurrou Cael. — Onde os anjos caídos prometeram jamais amar de novo.Isadora se
O silêncio entre eles era espesso, como se o ar estivesse esperando algo.Cael ainda estava ajoelhado, os olhos marejados, a respiração trêmula. A marca no ombro de Isadora pulsava em sincronia com a dele, como se os dois compartilhassem agora o mesmo feitiço. Ele estendeu a mão, mas hesitou a centímetros da pele dela.— Você… viu? — sussurrou ela, sem conseguir conter a rouquidão na própria voz.Ele assentiu, engolindo seco.— Eu senti você ser puxada. Vi o santuário. Selene. E… o sangue. O meu sangue. — Ele baixou os olhos. — Isso está se repetindo, não está?Isadora queria dizer não. Queria fingir que tudo era só mais um pesadelo. Mas a dor latejando em sua marca, e a rachadura no espelho — como se o mundo tivesse respondido ao chamado — gritavam que era real.Ela se levantou com esforço. As pernas vacilavam como se o chão ainda fosse feito de névoa. Caminhou até o espelho agora partido ao meio. A rachadura atravessava o vidro como um raio, dividindo o reflexo dela em duas versões:
O espelho de prata estava quieto demais.Desde que o vínculo fora selado com Cael, Isadora sentia algo vibrando atrás da superfície polida — como se o vidro escondesse um mundo pulsando logo além do véu. Ela evitava olhar por muito tempo, mas naquela noite, não conseguiu resistir.A marca em seu ombro queimava. Não com dor, mas com um chamado.E então, o espelho brilhou.Uma onda de luz prata a envolveu, e antes que pudesse gritar ou correr, foi sugada para dentro.⸻Ela caiu sobre o chão frio e branco como névoa sólida. O ar era denso e vibrante, carregado de energia ancestral. A névoa que envolvia o ambiente não impedia que ela visse — era como se a própria memória do mundo estivesse condensada ali, sussurrando histórias.À sua frente, colunas gigantescas de mármore lunar erguiam-se até um teto que não existia. Acima delas, apenas céu — um céu preto pontilhado de estrelas roxas e douradas, como se estivesse dentro de um universo esquecido pelos deuses.No centro do templo, uma fonte
Último capítulo