Ivy sempre soube que havia algo errado com seu passado. Órfã desde a infância e sem muitas lembranças do passado , ela passou a vida tentando seguir em frente sem respostas. Mas tudo muda quando sua rotina pacata vira um caos após ser raptada por Kael, um Alfa frio e dominante, que alega que ela lhe pertence. Presa em um mundo que até então acreditava ser apenas um mito, Ivy se vê no centro de uma guerra entre alcateias e segredos antigos. Enquanto luta contra a atração avassaladora pelo homem que deveria odiar, descobre que talvez sua ligação com ele seja mais do que destino… pode ser a chave para entender quem realmente é. Mas quanto mais verdades emergem, mais perigoso se torna o caminho. Ivy não é apenas uma humana qualquer. E há muitos dispostos a caçá-la para impedir que seu verdadeiro legado venha à tona.
Ler maisPOV IVY
Ivy Delacroix passou a vida aprendendo a lutar. Não com os punhos, mas com a resistência de quem enfrenta o mundo sozinha desde sempre. Órfã desde os seis anos, cresceu saltando de um lar temporário para outro, acumulando memórias amargas de rejeição e negligência. A cada mudança, ela construía paredes mais altas ao seu redor, aprendendo que depender de alguém só trazia dor.
Agora, aos 25 anos, Ivy tinha poucas coisas que chamava de suas. Seu pequeno apartamento com paredes finas e móveis usados. Um emprego como garçonete em um restaurante simples durante a semana e, ocasionalmente, extras em festas luxuosas para pagar o aluguel atrasado. E, claro, os pesadelos que a acompanhavam desde a infância, lembranças fragmentadas de uma noite que roubou seus pais e a deixou sozinha no mundo.
Fisicamente, Ivy era uma combinação de suavidade e força. Cabelos castanho-escuros ondulados que chegavam à altura dos ombros, quase sempre presos em um coque bagunçado, olhos cinzentos que carregavam uma melancolia constante e pele marcada por pequenos arranhões e cicatrizes que pareciam contar histórias. Seu corpo era magro, mas forte, reflexo de anos de trabalho duro e sobrevivência em um mundo implacável.
Naquela noite, Ivy estava exausta. Ela tinha aceitado um turno extra para servir em um evento luxuoso em uma mansão no alto de uma colina, um lugar tão afastado que parecia tirado de um filme. O salão era grandioso, decorado com lustres cintilantes e tapetes persas, lotado de pessoas bem-vestidas e de aparência intimidante.
POV KAEL
Kael Ryan era o exemplo perfeito de poder e autoridade. Alto, com mais de 1,90m, seu corpo parecia esculpido para a batalha, cada músculo carregando a promessa de força bruta. Seu cabelo negro, sempre levemente bagunçado, conferia a ele um ar selvagem, mas era nos olhos verdes acinzentados que residia o verdadeiro perigo. Olhos que pareciam carregar uma tempestade, frios e calculistas, sempre analisando o ambiente com precisão letal.
A sala de eventos, iluminada por lustres de cristal e cheia de risadas superficiais e jogos de poder, era um contraste absoluto com a essência de Kael. Ele odiava esses encontros sociais, mas era necessário manter as aparências. Como alfa da maior alcateia do continente, suas alianças políticas eram tão importantes quanto sua força no campo de batalha.
Enquanto bebia um uísque caro – mais para ocupar as mãos do que pelo sabor – Kael sentiu um aroma. Não era qualquer aroma. Era doce e floral, com uma nota sutil de algo desconhecido, algo que o fez congelar no lugar. Seus olhos percorreram o salão, a mandíbula tensa, enquanto tentava localizar a fonte daquela fragrância que agora dominava todos os seus sentidos.
Foi quando a viu.
Ela estava ali, movendo-se entre os convidados com uma graça despretensiosa, segurando uma bandeja com taças de champanhe. O uniforme de garçonete que ela usava era simples, mas havia algo que fazia o mundo ao seu redor desaparecer. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque bagunçado, deixando à mostra a delicada curva do pescoço. Sua pele tinha um brilho natural, e os olhos – grandes e profundos, de um castanho quente – carregavam uma mistura de cansaço e determinação que o fez se sentir vulnerável, um sentimento que ele desprezava.
“Não… Não pode ser”, pensou Kael, sentindo a garganta secar.
Dentro dele, Orion rugiu, praticamente empurrando Kael para reivindicá-la ali mesmo.
“ Companheira “ a voz de Orion ecoou em sua mente, forte e inabalável. ‘Sinta isso. É o vínculo.”
Kael apertou a mandíbula, tentando ignorar a presença dominante de seu lobo.
“Porra, a Deusa da Lua deve estar de brincadeira, uma HUMANA, fraca, frágil. “
Orion, no entanto, não recuava.
“A Deusa da Lua não comete erros. Vamos reivindica-la logo.”
Kael sentiu um misto de raiva e desespero crescer em seu peito. A ideia de que sua companheira destinada – aquela que deveria fortalecer seu legado e sua posição como alfa – fosse humana era inaceitável. Humanos eram frágeis, efêmeros, alheios às complexidades do mundo sobrenatural. Como ele poderia proteger a alcateia e, ao mesmo tempo, proteger alguém tão… vulnerável? Como iria comandar a maior alcateia do continente com um ser tão desprezível e fraco. Ela não seria a nossa Luna.
Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nela como se fosse um predador à espreita. Mas a cada passo, o cheiro dela se tornava mais forte, e com ele, a necessidade primitiva de tocá-la, de reivindicá-la como sua. Orion alimentava essa urgência, rugindo em sua mente com uma intensidade que fazia o corpo de Kael tremer.
“Pare com isso, Orion! Eu não a aceitarei.”
“ Você não tem escolha “ respondeu Orion com um tom de certeza implacável. “Sua resistência é inútil. Não pode rejeita-la, olhe para ela, Kael. O jeito que ela respira, o jeito que o coração dela b**e... ela já é parte de nós.”
Kael respirou fundo, tentando ignorar o calor que subia por seu corpo, o desejo irracional que ameaçava consumir sua lógica. Ele cerrou os punhos, suas garras ameaçando surgir enquanto lutava para controlar o lobo dentro de si.
De repente, os olhos de Ivy se ergueram, encontrando os dele por um breve momento. Aquela troca de olhares durou segundos, mas pareceu uma eternidade. Ela franziu a testa, como se sentisse algo estranho, antes de desviar o olhar rapidamente e continuar com seu trabalho.
Kael sentiu uma onda de frustração e algo que ele não queria reconhecer: uma pontada de dor por ela não tê-lo reconhecido como sua alma gêmea.
“Ela não sabe “disse Orion, mais calmo agora, mas ainda com um tom possessivo. “Mas vai saber. E quando souber, será tarde demais para você fugir.”
Kael girou o copo de uísque em sua mão, sua mente em caos absoluto. Ele sabia que a Deusa da Lua não fazia nada por acaso, mas isso? Isso parecia uma crueldade deliberada. Ele precisava se afastar. Precisava se concentrar em seus deveres, não em uma humana que nem sequer sabia da existência dos lobisomens.
Mas, enquanto observava Ivy desaparecer entre os convidados, Kael sabia que estava mentindo para si mesmo. Algo havia mudado, e não importava o quanto tentasse negar, ele nunca mais seria o mesmo.
“Você pode tentar fugir, Kael”, pensou Orion, com uma risada sombria. “Mas ela é nossa, quer você queira ou não.”
Kael virou o restante do uísque em um único gole, sentindo o calor da bebida queimar sua garganta. Ele precisava se afastar, agora. Não iria deixar que esse castigo da Deusa da Lua atrapalhasse seus negócios. .
O tempo parecia passar em outra frequência desde que Damian despertou. Uma semana havia se passado, e renascimento e transformações que moldaram a nova realidade. Damian, agora sentado ao lado de Nina no jantar, estava mais leve, com o sorriso de quem voltou de um lugar sombrio e reencontrou a luz.“ E quando eu achei que estava perdido pra sempre, vi uma explosão de luz... “ contou ele, arrancando um suspiro emocionado de Nina. “ Era como se uma força antiga me puxasse de volta. Eu sabia que era vocês. “ Ele olhou para Ivy e Kael com um sorriso sincero.“ Estamos felizes que voltou, irmão “ respondeu Kael, batendo no ombro dele. “ E não se preocupe, não vai voltar para as sombras tão cedo.”Damian deu uma risada.“ Sabe, Kael... até que enfim deixou de ser bundão e marcou logo a mulher. Já tava virando novela mexicana “ disse, e todos riram, até Ivy.Ela corou, desviando o olhar, mas não conseguiu conter o sorriso.“ E eu estou feliz... muito feliz por fazer parte dessa alcateia. Por
O mundo parecia silencioso demais quando Ivy foi autorizada a sair da ala de cura. Eles também moveram Damian para o quarto da mansão, já que ele não tinha nenhuma piora e assim Nina poderia dormir ao seu lado. O frio da guerra ainda pairava sobre a alcateia, mesmo que o sol brilhasse com mais constância e o cheiro de sangue já não fosse presente no ar. Havia algo de estranho em caminhar pelas trilhas novamente, sentindo a vida pulsando sob seus pés, quando tantos não podiam mais.Kael a ajudava a andar, com o braço firme ao redor de sua cintura, como se tivesse medo de que ela caísse. E, por vezes, ela quase caía. Não só pela fraqueza física, mas pelo peso em seu peito.“ Eles não estão mais aqui “ ela sussurrou, encarando as clareiras vazias, os postos de vigia silenciosos.“ Mas parte deles vive em tudo isso “ respondeu Kael. “ No que vamos reconstruir. No que você é.”Ao retornar à mansão, Ivy sentiu os olhos marejarem. O lugar que antes lhe parecia um campo de batalhas internas
As semanas seguintes se desenrolaram como um novo amanhecer para Ivy. A dor da guerra ainda era recente, as cicatrizes invisíveis marcavam sua alma, mas havia também uma chama crescente dentro dela. Algo ancestral, poderoso, e que, pela primeira vez, não a assustava. Com Kael ao seu lado, cada treino, cada momento de conexão com seus poderes, tornava-se mais fluido, mais parte de quem ela realmente era.Kael era paciente e firme. Ele a guiava com confiança, ensinando-lhe a controlar a força de seus golpes, a canalizar a energia que emanava dela em ondas de luz e calor. A transformação em sua forma de Lycan havia sido dolorosa, sim, mas também libertadora. Ela se lembrava de como seus ossos pareciam estalar sob a pele, da forma como a pele queimava ao se esticar, das lágrimas que correram por seu rosto misturadas ao suor... mas também se lembrava do olhar de Kael, firme e amoroso, o mantendo no presente, impedindo-a de se perder na dor.Agora, se mudara para a mansão definitivamente. A
POV IVYTudo parecia feito de névoa e silêncio. Um silêncio tão profundo que o som da minha própria respiração me soava estranho. Eu não sabia onde estava. Não sabia se ainda estava viva. Não havia dor, mas também não havia calor. Era como flutuar em um espaço sem fim, sem tempo, sem forma… até que algo começou a mudar.Uma lembrança. Um toque quente em minha mão. Uma voz sussurrando meu nome com urgência e amor. A voz dele.Kael…Meus dedos estremeceram antes que eu percebesse. Meu corpo pesado parecia acordar do fundo de um abismo. A luz invadiu meus olhos como facas, mas havia um som. Um som que eu conhecia melhor do que qualquer outro no mundo.“ Ivy… amor, por favor, abre os olhos… me escuta… “ a voz de Kael estava embargada de emoção, e de alguma forma, isso me puxou ainda mais de volta.Pisquei. A princípio, tudo era borrado, formas sem sentido. Mas então vi ele. Seu rosto tão perto do meu, seus olhos vermelhos de choro, as mãos quentes envolvendo as minhas.“ K-Kael… “ minha v
O tempo parecia escorrer pelas frestas da janela como grãos de areia persistentes. Dois dias haviam se passado desde a última batalha, desde que Ivy havia queimado os céus com sua luz e caído desacordada, e desde que Damian havia sido ferido por aquele ser sombrio e mergulhado num estado de inconsciência profunda.Kael não deixava o quarto das curandeiras. A cadeira ao lado da cama de Ivy já moldava seu corpo, e os dias pareciam longos demais sem a presença dela. Ele passava as manhãs em silêncio, observando a respiração lenta da mulher que amava. O peito dela ainda subia e descia com a mesma suavidade, mas ela não o olhava, não sorria, não dizia uma palavra. E aquilo estava lentamente acabando com ele.Nina também não saía de perto de Damian. Seus olhos estavam sempre vermelhos, mas ela não chorava mais. Apenas observava o rosto dele em silêncio, como se o amor entre os dois fosse forte o suficiente para trazê-lo de volta.Ele se levantava todo dia na mesma hora. Treinava seu corpo.
Dois dias haviam se passado desde a batalha. O campo de guerra já não carregava mais o cheiro de sangue e morte, mas a tensão ainda pairava sobre a alcateia. Ivy e Damian continuavam desacordados, como se estivessem presos em um sono profundo do qual ninguém conseguia despertá-los. Kael, que passara todo esse tempo ao lado de Ivy, observava-a com uma mistura de preocupação e fascínio. Seu corpo permanecia intocado, sua respiração era estável, mas havia algo nela diferente, como se sua presença fosse mais intensa, mais poderosa.Damian, por outro lado, não exalava a mesma aura tranquila. Seu corpo estava frio, e, embora ainda houvesse vida, parecia que algo dentro dele lutava para permanecer ali. Nina se recusava a sair do lado dele, as olheiras profundas mostravam o quão pouco ela havia dormido nesses dois dias.Kael sabia que não podia mais esperar. Precisava de respostas, precisava de ajuda. Sem perder mais tempo, ele chamou um dos guardas e ordenou que cuidassem da segurança de Ivy
Último capítulo