Laura é uma psicóloga cética que acredita que o amor não passa de uma ilusão da mente. Bernardo é um fazendeiro determinado que precisa se casar para garantir sua herança. Quando ele lhe propõe um casamento de conveniência, Laura aceita, afinal, sentimentos não estariam envolvidos. Mas à medida que convivem, ela começa a questionar suas próprias certezas. E se o amor não for uma doença psicológica…
Ler maisOlá, queridas! Estou postando esse bônus aqui porque muitas de vocês, que acompanharam os dois livros de “Presente de Divórcio”, ainda estão por aqui e ocasionalmente alguém me pergunta algumas coisas. Bom, uma das perguntas que mais recebi foi sobre a ausência da Júlia no final do livro. Por que ela não foi mais mencionada? A verdade é que eu não queria dar um fim definitivo para ela, porque, apesar de tudo, eu não a via como uma vilã. Eu via a Júlia como uma pessoa humana, com suas falhas, medos e decisões erradas, como qualquer um de nós. Ela fez escolhas que a colocaram em um caminho difícil, mas a vida é assim, cheia de nuances. Eu quis deixá-la em aberto, pois acreditava que a história dela não precisava ser encerrada de forma definitiva. Quis que a história da Júlia fosse assim, aberta, com a possibilidade de um recomeço. Afinal, todos merecemos uma segunda chance, não é? Espero que vocês compreendam essa escolha e saibam que, para mim, ela não é uma vilã — apenas alguém t
Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, essa conversa ia acontecer.Só não achei que fosse doer tanto estar ali, sentada à frente dele, com tantas palavras presas na garganta. Bernardo sempre teve esse dom de me deixar em conflito — entre o que penso, o que sinto, e o que consigo dizer em voz alta.Meu coração doeu com as palavras dele. Dizer que me amava… e do jeito que disse, como se estivesse entregando tudo. Um último esforço. Um apelo.Mas eu não conseguia corresponder. Não com palavras. Não agora.Porque amar o Bernardo — e eu amava — era como tentar segurar água entre os dedos. Respirei fundo, sem saber ao certo o que dizer. Não queria mentir. Mas também não queria dar a ele o que ele queria ouvir. Porque não era o momento. Porque eu ainda estava ferida.Respirei fundo, sem saber ao certo o que dizer. Não queria mentir. Mas também não queria dar a ele o que ele queria ouvir. Porque não era o momento. Porque eu ainda estava ferida.— Você fala como se eu fosse uma parede esperan
Eu cometi um erro. Não era a primeira vez que essa frase rondava meus pensamentos, mas, naquele dia, ela ecoava com mais peso. Um erro não por maldade — nunca foi por maldade —, mas por ego, por covardia, talvez. Levar a Sara pra dentro do casarão foi uma escolha estúpida. E, no fundo, eu sabia. Ela não gritou, não fez escândalo, não me olhou com raiva. Só com uma tristeza silenciosa que me perseguiu desde então. Sara não tinha culpa. Ela chegou animada, curiosa, e no início talvez tenha acreditado que havia algo entre nós. Mas bastou um almoço, um passeio pela fazenda, e a aproximação dela com o Felipe ficou evidente. E se eu dissesse que me incomodou… estaria mentindo. Na verdade, foi um alívio. Um alívio perceber que ela desviava o olhar quando Felipe passava, que ela sorria diferente pra ele. Que me olhava com aquela gentileza superficial de quem já entendeu que não era ali que o coração dela queria estar. Nem o meu. Eu, por outro lado, continuava preso a uma mulher que agor
Meus olhos ardiam, mas não de sono. Ainda me sentia gelada por dentro, mesmo depois do banho quente, das roupas secas e das toalhas macias da Lena. Era como se a chuva tivesse atravessado a pele, como se tivesse me lavado por fora, mas não levado nada do que realmente doía. Eu tinha voltado. Eu tinha conseguido. Ninguém veio me buscar. Ninguém me salvou. E pela primeira vez, isso não me doeu do jeito de sempre. Doeu de outro jeito. Doeu com uma clareza que machuca mais: eu precisava aprender a me salvar sozinha. Vesti a blusa macia que a Lena havia deixado no encosto da cadeira. Ainda estava trêmula, mas sentia que precisava sair daquele banheiro, enfrentar o mundo real — ou o que restava dele. Respirei fundo antes de abrir a porta. Lena se virou primeiro, os olhos atentos, ainda preocupados. Diogo estava ao lado da janela, olhando o escuro lá fora, e Bernardo… Bernardo se levantou da poltrona imediatamente ao me ver. — Laura… — ele deu um passo na minha direção, com expressão
A chuva desabava com violência sobre o para-brisa, e os limpadores não davam conta de varrer a água. Liguei o farol alto, mas a visibilidade continuava péssima. O barro da estrada cobria os pneus e fazia o carro perder o controle a cada tentativa de avançar. O motor rangeu quando tentei acelerar de novo, e dessa vez não houve aviso: o carro escorregou para o lado e, com um solavanco seco, parou atravessado na estrada. Travei o volante com força, o coração martelando no peito. A frente do carro ficou parcialmente atolada em um buraco formado pela chuva, e qualquer tentativa de sair só fazia as rodas girarem em falso. — Droga! — murmurei, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos, se misturando com o som da tempestade. Tentei abrir a porta, mas a lama já começava a cobrir as laterais. Eu estava presa ali. No meio do nada. Sozinha. Apertei o volante com as duas mãos, tentando pensar no que fazer. O celular, claro. Peguei com mãos trêmulas, mas não havia sinal. A tela mostrava apenas
Tirei as luvas de montaria enquanto subia as escadas para o andar de cima. Meus dedos estavam rígidos do esforço e do frio, e a poeira do campo grudava nas roupas como se fizesse parte de mim. Passei boa parte da tarde cavalgando — algo novo, inesperado. Descobri que havia prazer em deixar o corpo guiar e a mente silenciar. Cavalgar estava me ajudando a respirar com menos peso, a pensar com menos dor. Mas agora, cada músculo doía. E a paz que eu tinha conquistado ali fora começava a se esvair. Bernardo estava de volta. E, como Lena me avisara, ele não estava sozinho. Antes de alcançar meu quarto, notei uma movimentação no final do corredor. Uma figura feminina parada na ante-sala, arrumando uma mala aberta sobre a poltrona. Cabelos castanhos, blusa clara, movimentos delicados, seguros. Com certeza era ela. Sara. Nunca a tinha visto antes. Quando fui à vinícola em Porto Alegre, provavelmente ela já trabalhava por lá, mas eram tantos rostos, tantos setores, que seria impossíve
Adiei minha volta para Minas o quanto pude. Tentei me enganar dizendo que era por causa do trabalho, mas no fundo eu sabia — era por causa dela. A Laura. Sempre foi por causa dela. Fiz de tudo para prolongar minha estadia em Porto Alegre, mesmo que os dias estivessem se tornando cada vez mais difíceis de suportar. Mas chegou um ponto em que já não fazia mais sentido adiar o inevitável. Só que, no exato momento em que eu começava a aceitar que talvez fosse hora de voltar pra casa, a Sara — funcionária da vinícola — se aproximou, perguntando se poderia conhecer a fazenda. Ela disse que queria mudar de ares, aprender mais sobre a rotina fora da produção e se oferecer para ajudar diretamente comigo na administração rural. Foi espontânea, sincera. E eu aceitei. Talvez porque fosse uma boa ideia profissionalmente. Talvez porque, de algum modo, eu precisasse desesperadamente de uma distração. A Sara era simpática, eficiente, e muito bonita. E o melhor: não me lembrava a Laura. Ela não
Passei a tarde no quarto, tentando escolher uma roupa como quem escolhe um novo começo. Hoje seria diferente. Eu sentia isso. O peso no peito, aquele incômodo que há dias vinha me sufocando, agora parecia ter um nome, um sentido. E pela primeira vez, eu não queria fugir. Queria ficar. Enquanto ajeitava os cabelos no espelho, pensei em tudo que havia acontecido entre nós. Eu gostava dele. Mais do que isso — eu estava apaixonada. Talvez estivesse há algum tempo, mas agora estava disposta a admitir. Não queria mais viver pela metade, nem amar com reservas. Hoje, eu ia conversar com o Bernardo. Ia dizer que queria tentar de verdade. Que não queria mais feri-lo. Que queria ficar. Mas Bernardo não apareceu para o jantar. Beatrice tentou disfarçar a estranheza, dizendo que ele havia mandado uma mensagem avisando que ia sair com alguns amigos, mas o tom dela era hesitante — como se também não soubesse direito o que estava acontecendo entre nós. Bianca fez o possível para manter a conv
Acordei com a luz da manhã filtrando pelas frestas da cortina. O som distante de passos e vozes no andar de baixo indicava que a casa já estava viva, mas ao meu redor, tudo parecia inerte. A cama ainda carregava o calor da noite passada, mas Bernardo não estava mais ali. Me virei para o lado onde ele dormira. O travesseiro afundado, o lençol bagunçado… e um vazio que pesava mais do que eu gostaria de admitir. O travo amargo na garganta não era apenas sono mal dormido — era arrependimento, era vergonha. Toquei os próprios lábios, tentando apagar o gosto da noite anterior. O jeito como ele me tocou… como se eu não fosse nada além de um corpo. Como se quisesse me provar o quanto aquilo doía nele. E doeu em mim também. Talvez mais do que eu estivesse preparada pra sentir. Sentei na beirada da cama, o chão gelado sob os pés servindo de choque de realidade. Ele estava se afastando. Eu podia sentir isso agora, com uma clareza cortante. Bernardo estava erguendo muros que antes eu fingia nã