Stella Hayes
Naquela noite, Nolan me chamou até o quarto dele. Ele era o filho da minha madrasta, Irina. Nossa relação sempre foi distante, e eu queria recusar seu convite, mas ele disse que tinha algo para me mostrar. A forma como ele falou não me pareceu suspeita de imediato, só... estranha. Mas eu, extremamente burra e curiosa, fui. Quando entrei, ele estava encostado na cômoda, como se me esperasse há horas. O quarto estava com as luzes mais baixas, uma garrafa de bebida sobre a escrivaninha. Ele pegou um copo e serviu um pouco. — Quer? — perguntou, estendendo o copo para mim. Balancei a cabeça, tentando ser educada: — Não, obrigada. Ele revirou os olhos, impaciente. — Para de fingir que é pura! — zombou irritado e eu congelei. Sem que eu pudesse reagir, ele se abaixou, puxou alguma coisa debaixo da cama e jogou em cima dela. Meu coração quase parou. Era uma lingerie vermelha, provocante... exatamente aquela que o Brandon tinha me dado de presente no meu aniversário. Eu a escondi no fundo da gaveta, longe dos olhos da Irina — ou de qualquer pessoa. — Isso aqui eu encontrei no seu quarto. É seu, não é? — ele falou com um sorrisinho nojento nos lábios. Fiquei em choque. Como ele teve coragem de mexer nas minhas coisas? E por quê? — Me dá isso agora! — gritei, indo em direção à cama para pegar de volta. Ele segurou a lingerie, afastando o braço para trás. Tentei alcançar, e acabamos os dois tropeçando e caindo sobre a cama. Mas não foi um acidente qualquer. Nolan me segurou com força, e antes que eu pudesse sair, ele me agarrou e começou a me tocar de um jeito nojento, forçado, indecente. Eu lutei. Chutei, empurrei, gritei, e, no meio do desespero, tateei a lateral da cama até alcançar o abajur da cabeceira. Sem pensar duas vezes, bati com ele na cabeça do Nolan com toda a força que consegui reunir. Ele caiu para o lado, atordoado. Aproveitei a chance e corri, quase tropeçando nos próprios pés. Saí do quarto dele ofegante, em pânico, com o coração batendo tão forte que mal conseguia respirar. Corri até o escritório do meu pai, aos prantos. Quando ele me viu naquele estado, largou tudo que estava fazendo. — O que houve, filha? — perguntou, levantando-se. — O Nolan... ele tentou... — eu não consegui nem dizer tudo, só chorei mais a ponto de soluçar. Meu pai me abraçou, me ouviu entre soluços e, quando entendeu o que tinha acontecido, seu rosto ficou vermelho de raiva. Saiu de lá como um furacão. E mesmo com medo, fui atrás. Encontramos Nolan ainda no corredor, esfregando a cabeça com cara de vítima. Mas quando nos viu, abriu um sorriso cínico. — Foi ela que me provocou! Disse que me achava bonito e que queria transar comigo! — MENTIRA! — eu gritei, inconformada. — Você nem é bonito! Ninguém quer transar com você! Meu pai olhou para mim com firmeza, como se quisesse dizer: "Eu acredito em você". E então falou: — Eu conheço minha filha. Ela não é esse tipo de pessoa. Deve haver algum mal-entendido aqui. Mas Nolan ainda não tinha terminado o teatro. — Tenho um vídeo, se não acredita em mim. Meu estômago embrulhou. Vídeo? Que vídeo? De que droga de vídeo ele estava falando? Ele nos levou até o quarto dele e, com a maior cara de pau do mundo, ligou uma TV. Conectou um pendrive, e lá estavam as imagens. As cenas me mostravam entrando no quarto, tentando pegar a lingerie de volta, e depois a confusão sobre a cama. Mas o som estava desligado. Sem contexto, parecia outra coisa. Parecia... que eu estava tentando seduzir ele. Meu mundo desabou. Senti nojo, muito nojo. — Isso aqui é a prova. — ele disse, balançando a lingerie no ar. — Ela queria me seduzir. Quando viu que eu não cedi, tentou me bater pra me forçar! — Ele falava de um jeito sério. Dessa forma, era fácil convencer alguém. Eu fiquei paralisada. Tudo parecia virar contra mim. Foi aí que a Irina, minha madrasta, entrou na sala como se tivesse esperado por isso. — Eu vou chamar a polícia! Essa vadia vai pra cadeia! — gritou, como se eu fosse uma criminosa de verdade. Ainda que eu tivesse feito o que o Nolan estava alegando, o que não era verdade, não havia motivos para envolver a polícia. Meu pai me segurou pelo braço com firmeza. Estava sério, mas parecia mais preocupado do que bravo. — Vai lá, pede desculpas para sua madrasta. Implora. A gente precisa evitar que isso vire caso de polícia. Você não pode ser presa, Stella. Eu não entendi. Era ele mesmo dizendo aquilo? O mesmo pai que sempre me defendeu, agora queria que eu pedisse desculpas por algo que não fiz? Então, ele suspirou e me puxou para um canto. — A empresa está com sérios problemas financeiros. — ele confessou, baixando a voz. — O caixa está seco. Um velho amigo meu do setor empresarial ofereceu ajuda... mas com uma condição. Ele quer que você se case com o filho do chefe dele. Meu cérebro parou de funcionar por alguns segundos. — O quê?! Isso é um absurdo! Eu namoro o Brandon há três anos! Se o problema é dinheiro, posso pedir ajuda pra ele. A família dele é rica! Primeiro, me acusam de algo que não fiz, agora querem me forçar a casar com alguém que não amo? — o desespero era nítido em minha voz. — E você acha mesmo que ele vai bancar tudo se você estiver atrás das grades? — Papai retrucou. — Além disso, o Brandon só quer se divertir. Se quisesse algo sério com você, já teria te pedido em casamento há muito tempo. — Ele me ama! Só queria esperar eu me formar para a gente decidir juntos! Pai, por favor! — insisti. Irina, que até então estava só xingando e ameaçando, mudou de postura ao ouvir sobre a falência. Seus olhos brilharam como se tivesse ganhado na loteria. — Se você não aceitar esse casamento, Stella, eu mesma vou entregar o vídeo para a polícia. Vamos ver se seu namoradinho vai continuar te amando depois de te ver atrás das grades! As palavras dela me feriram mais do que qualquer tapa. Comecei a chorar. Não era só raiva ou medo. Era impotência. Era o sentimento de não ter saída. — Eu prefiro ir pra cadeia do que me casar com alguém que não amo! — gritei, mesmo sabendo que ninguém ali se importava. — É só por um ano. — meu pai disse, tentando soar razoável. — Só precisamos de tempo para levantar o investimento. A empresa tem potencial, Stella. É só uma questão de tempo até darmos a volta por cima. Por favor, filha. — seu tom era de súplica. Irina deu o golpe final com um tom mais calmo, quase maternal: — Case-se. Um ano passa rápido. Um ano depois, eu mesma deleto o vídeo. A gente esquece tudo isso. Olhei para o meu pai, para Irina, para Nolan. Cada um com seus interesses, seus jogos, suas manipulações. E ali, no meio de tudo, eu... sozinha. Exausta, sem forças para lutar, sem uma saída real, sem ninguém verdadeiramente do meu lado, eu só balancei a cabeça. — Tudo bem… — falei, um pouco acima de um sussurro. — Eu aceito. E naquele instante, alguma parte de mim morreu.